10/03/2008


chamam-te carcaça inútil
dinheiro fora de circulação
espécie humana anormal
habitante de banco de jardim
a jogar as cartas com os teus
e a roleta russa com o tempo
de olhar mais vago e distante
pressentindo algo mais próximo
algo bem mais perto de ti.
chamam-te carcaça improdutiva
substituída por uma máquina
brilhante, bem oleada e bem escrava
a troco do soldo mínimo.
os entendidos recusam a palavra
para chamarem a atenção
e sem esperança se desculparem
de a cura ser uma ilusão
para se desculparem de não conseguir
transformar a doença em benção.
chamam-te de carcaça inútil
após quarenta anos de trabalho
a alimentar os bancos e o estado
carregado de medicamentos
mas só metade dos que o dinheiro
consegue comprar
és atirado, despachado
para o ferro velho
para o lado de lá
não que a morte
te tenha vindo buscar
mas apenas pela sociedade
a quem deste vida
essa é a primeira a te empurrar.
chamam-te carcaça inútil
chamam-te de velho

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