17/03/2007


vivo como um cão largado a 100 kilometros de casa
repetindo todos os dias o caminho de volta
e todos os dias ficando a dois metros da porta
e todos os dias ficando a dois metros de ti
do outro lado do corredor ou das escadas
em que me ignoras, envenenas e apaixonas
com esse andar solto e despreocupado
ensinando poesia às robots das passerelles
que se passeiam pelos corredores
em que me afundo em passos de ilusão, de solidão

15/03/2007


afogo a cabeça em memórias futuras
sonho acordado contigo
invento histórias de primeiros encontros
de primeiros beijos
de primeiros deleites de corpos suados
de primeiros cigarros após fumados
e invento uma história nossa,
um encontro nosso por dia,
enquanto espero por ti pacientemente
lua após lua de insónias,
ou a cada encontro casual de corredor.
e para cada um construo um desfecho feliz por dia
para me lembrar
que vale a pena aqui estar.
que vale a pena repetir os passos
que repeti durante 1000 dias,
só para ter uma oportunidade
de te conquistar.
que vale a pena aqui estar,
que vale a pena repetir os passos
que repito todos estes 1000 dias
só para te conquistar.

08/03/2007


de que foges
de quem te escondes,
ou que psicopata,
que monstro serei eu?
de que carne,
de que pele serei feito?
pergunto ao espelho
e ele mentiroso
não me acusa de grande defeito
e tu não me acusas de qualquer grande feito.
terei visco em vez de sangue,
ou a boca torta, fedorenta ou desdentada,
ou é a insegurança despida
em cada palavra sustida?
doi-me adormecer
doi-me ver amanhecer
encolhido no sofã
e a cama por desfazer
doi-me o corpo
doi-me a cabeça
doi-me a falta que faz
um segundo de calma
um segundo de silêncio
um segundo de paz
doi-me o anelar da mão
de tão só que está
doi-me a boca mirrada
e a face desfeita
à procura da caixa negra
a meio do peito
é tão certo o ter-te perdido
como o nunca te ter tido
e ambos fazem doer