28/10/2007
hoje apeteceu-me escrever
como se tivesse encontro
consulta marcada
no consultório da morte
amanhã de manhã
e já não tivesse tempo
para dormir uma
última noite de sono.
hoje apeteceu-me pintar
como se amanhã
fosse acordar num mundo
a preto e branco
em que ninguém se lembra
de que cor é o seu sangue.
hoje apeteceu-me tocar guitarra
como se amanhã fosse ficar
surdo como uma pedra
que não se afasta impávida
só para ouvir o dedilhar
dos pneus na estrada molhada.
hoje apeteceu-me saborear
com a pele uma lágrima lenta
como se amanhã o ferver global
fosse secar o profundo oceano
e o transformasse em marte.
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