28/10/2007
a confusão de sentidos instalou-se
já não paira a razão
deslocou-se o tempo e
falhei a hora do autocarro
fiquei sentado de caneta na mão
e caderno a amanhecer
em solidões de orvalho.
doi-me o coração! Caralho!
não dá para transparecer?
ou será que é preciso
dar-te duas estaladas
de luvas brancas
e unhas em lâmina?
sim, tu que estás a ler!
sim, é para ti.
perdi-me algures
entre os vinte e os trinta
e ainda não me achei
a procurar por mim no passado
devo abrir os olhos
e seguir em frente
destemido à procura
de onde quero estar
porque se perde demasiado tempo
a reavivar cinzas
que deram tudo de si
e merecem descansar.
perdi-me algures
entre as duas e as seis da manhã
de todas as noites de vida
a procurar por ti
mas desisti
cheguei à conclusão
que não és noctivaga.
preciso mudar a forma como
inspiro este ar dos dias
de violetas frias e de
orvalhadas cinzentas e dispersas
que o calendário devora.
preciso mudar este sorriso
que se esconde atrás
das incómodas frustações
das aberrantes desilusões
que se herdam dos patrões
no eterno contar dos tostões.
preciso mudar o ser
que inventei para mim
culpando o lugar que o
abriga do vento, do tempo
em desculpas esguias e sombrias
preciso aprender a reconhecer
quem sou atrás deste
que aqui está transformado
e aceitar pacificamente
a evolução, a revolução
do que se seguirá.
hoje apeteceu-me escrever
como se tivesse encontro
consulta marcada
no consultório da morte
amanhã de manhã
e já não tivesse tempo
para dormir uma
última noite de sono.
hoje apeteceu-me pintar
como se amanhã
fosse acordar num mundo
a preto e branco
em que ninguém se lembra
de que cor é o seu sangue.
hoje apeteceu-me tocar guitarra
como se amanhã fosse ficar
surdo como uma pedra
que não se afasta impávida
só para ouvir o dedilhar
dos pneus na estrada molhada.
hoje apeteceu-me saborear
com a pele uma lágrima lenta
como se amanhã o ferver global
fosse secar o profundo oceano
e o transformasse em marte.
21/10/2007
nada feito.tudo desfeito.
tudo me leva a partir
tudo me leva a desistir
de mãos limpas a tinir.
nada feito. tudo desfeito
e nada para quebrar,
nem para desabafar
nem um caco
nem um vidro
para me deixar fugir
nem uma bala, nem um fio
para me agarrar
e poder deixar-me cair
trinta e três
e assim queria ficar
e demasiada covardia
a deixar-me arrastar
pelo nada feito
pelo tudo desfeito.
tenho um buraco aberto
a meio do peito
chama-lhe coração desfeito
chama-lhe de insatisfeito
chama-lhe defeito
chama-lhe o que quiseres
só não tenhas preconceito
nem nojo, nem temor
de não o ter como tu
quente, ardente
e por vezes indiferente
tenho um buraco aberto
a meio do peito
foste tu! foste tu!
não deixaste sarar
não o deixaste fechar
aos sopros mundanos
aos medos urbanos.
tenho um buraco aberto
a meio do peito.
foste tu! foste tu!
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