15/04/2006

a tinta perdeu a cor
e não terei sido eu a perdê-la
tal como não fui eu que perdi
a vontade de olhar os olhos dos outros
foram-me só oferecidos desvios de olhar
foi só o que me foi oferecido
um presente envenenado.
não, também não fui eu que te perdi.
foi o não quereres ser achada por mim,
perdida a tentares ser achada.
e a pedra rebola na calçada
pontapeada por quem não te quer achar,
e eu, garimpeiro triste e falhado,
no distante outro fundo da rua
perdi-me à tua procura.
não, não fui eu que te perdi,
foi o não quereres ser achada por mim.
e mil ruas, mil luas depois
perco-me a achar que te perdi.
e a covardia oferecida do
desvio do olhar venceu-me
quando te olho no teu fundo da rua.
não, não fui eu que te perdi
e também nem tudo perdi.
ganhei o gosto desta sangria
que me deixa o peito a latejar
ganhei esta mistura de dores,
a da sangria e a do sangue
que engulo juntas mas só
a primeira sei expulsar.
não, não fui eu que te perdi
foi o não quereres ser achada por mim.
mas fui eu que me perdi,
no distante outro fundo da rua,
a procurar por ti.

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