04/12/2007


hoje desisto de mim
e da luta de te conquistar
quando tudo cai por terra
ao ver-te outro beijar
em gestos doces, delicados
de quem ama o estar a amar
hoje estou feliz por ti
por ver-te assim
hoje estou infeliz por mim
por ver-me assim
hoje meti a canção número cinco
do meu álbum preferido
no leitor de cds do carro
e apontei para debaixo
de cada camião que passava
mas imaginei que me pudesse magoar
mais do que a agonia que me comia
e mulher nenhuma merece
que me ajoelhe assim

ontem disseste-me que sentes
as últimas folhas de outono beijar o chão
hoje ouvi dizer que sucumbiste à paixão
amanhã pintarei um graffiti para ti
e ficará desgastado de solidão
à espera que lhe sopres cor
com lábios doces de açúcar.
hoje faltei a uma reunião às dez da manhã
porque me apeteceu prolongar o sonho
porque tu estavas lá, e não quis acordar.
hoje apeteceu-me extinguir
o vinho do porto deste bar
não para te esquecer
só para te sentir a triplicar.
hoje apeteceu-me escrever-te um poema
mas não sei rimar, nem soletrar cada palavra
que te derreti em sonhos tardios
sobre pele morena por beijar.
hoje apeteceu-me pintar-te
deitar-te na tela e deixar a tinta fluir
entre dedos entrelaçados e corpos ruborizados
mas não estavas aqui para soprar