ohhhhh,
descalça-te, solta os dedos dos pés entre a terra,
solta o cabelo e os olhos no infinito do mar
segurando um barco à vela e
"Jeff Buckley - Lover, You should come over"
cantando aí bem perto ao fundo da sala.
pega num Porto, num Verde ou num néctar
que te adoce os lábios cansados de mais um dia
de miúdos-homens, de globalização e de
surrealismos que pairam na televisão.
ohhhhh
amor, amor, amor, amor, amor, amor, amor, amor...
estás obrigada a ler este mail repetidamente
segundo estas condições
sob risco deste texto não fazer sentido
ou de provocares um acidente inter-estelar
e não haver lua sob a qual possas amar
ohhhhh
amor, amor, amor, amor, amor, amor, amor, amor...
somos duas constelações milernarmente
solitárias, perdidas... em rota de colisão
hoje, amanhã ou no mês que vem
e não há lençois de seda
em que eu não te queira beijar em tal combustão
Ohhhhh
amor, amor, amor, amor, amor, amor, amor, amor...
não te deixes enganar
pelos exageros que dizem de mim
sou apenas mais um humano
cravejado de defeitos
teimando caminhos de solidão
Ohhhhh
amor, amor, amor, amor, amor, amor, amor, amor...
se eu fosse Pessoa
todos os meus heterónimos
te confessariam opiaciamente
que adorei a tua fotografia
e que desde o meio-dia de ontem
te trago aqui
neste lado do peito
sem saber o que te escrever
Ohhhhh
amor, amor, amor, amor, amor, amor, amor, amor...
não sou Pessoa,
sou ninguém, sou nada
sem te conhecer
todas as noites
a olhar as estrelas
à procura de ti
Ohhhhh, por isso
amor, amor, amor, amor, amor, amor, amor, amor...
não me assobies com um doce
e me largues como um cão vadio
a 100 quilómetros de distância
porque eu todos os dias
farei o caminho de volta
nem que seja
para que todos os dias
possa ficar a dois metros de ti
Ohhhhh
amor, amor, amor, amor, amor, amor, amor, amor...
devias estar agora aqui
nesta rota de colisão