29/11/2015

Arghhhhh a solidão mara!
Ficas tonto! Nauseado!
Perguntas-te porque todos os outros não pensam como tu. 
Arghhhhhh A solidão mata!
Pensas mais um pouco
Só pela ilusão da dúvida,
Como poderá ser além da solidão,
Fora de mim?

17/02/2009


os blogs eatão mortos
a vontade sucumbiu
e está demasiado escuro aqui
para escrever sobre ninguém.
acende a luz, ascende à luz
dá o crédito ao inimigo
por te ter ferido, vencido,
enganado e derrotado.
os blogs estão mortos
como os olhos nos jornais
num deja-vú rotinado
acende a luz, ascende à luz
que está um frio alaranjado
e um silêncio de surdo
cortado por um lapso
de alucinado ofuscado
frente a um espelho de ar.
acende a luz, ascende à luz
que pior do que não ser amado
é ser constantemente degolado
pelos monstros na casa de banho
que insistem em apagar a luz

06/12/2008


ninguém sabe o meu primeiro nome.
e agora quem culpar?
ninguém? o monstro?
este cérebro
multidimensionalmente esquizofrénico,
que me faz sentir em cada pensamento
um eu diferente?
ninguém sabe o meu segundo nome.
e agora quem culpar?
a ortografia? a genealogia?
ou a mim
que também já esqueci?

19/11/2008

R

tenho um buraco aberto
a meio do peito.
foste tu! foste tu!
e agora vivo desfeito
como um vidro partido
em câmara lenta
aqui ninguém entra!
aqui ninguém entra
a não ser que tenha
um cérebro, um coração
e queira partilhá-lo
e queira dá-lo
só a mim! só a mim!
em dias sem fim
em noites sem fim
só a mim! só a mim!
e só assim me darei
só a ti! só a ti!

10/11/2008


pronto! está feito!
a instalação foi feita
e o portátil foi entregue
mas não entregue em mão
ficou encostado á parede
repousando no chão
enquanto tu enrolavas um charro
e eu rumava sem norte
e no dia seguinte
trocamos um copo
tu um baileys
eu um porto
enrolamos mais um
tu rumaste a casa
eu rumei a lado nenhum

19/10/2008


não quero emoções
em sítios indevidos.
é assim que me dizes
pela 2ª vez NÃO.
podes negar-me eternamente
um sim desejado
mas nunca me roubarás
o direito á emoção
que é minha,
entrenhada
bem longe da pele
funda, enterrada
á procura de um coração
que já não encontra.
mas não o digas
não te adiantes
porque este já não
to pedi.
ouvi da primeira vez
e serviu de lição
para perceber
que nunca me quiseste
aqui.

30/06/2008


estou esgotado
estou cansado de dizer
e ninguém ouvir.
estou esgotado
de construir aos poucos
e ver muita gente
tudo destruir.
apetece-me fugir
parir a morte
para que acorde
e abra os olhos.
fazê-la sentir
que já não adianta
mais insistir
em deixar-me aqui
todos os dias
só a subtrair
pedaços de sonhos
que queria erguer
mas que sou levado
a tolher, a esquecer.
são tantos a destruí-los
a roubá-los.
tantos a sugá-los,
a empurrarem-me
para fora das fotos
e ninguém a contribuir.
e durante anos a ver
o que é não receber
uma gota de humanidade,
amor ou amizade
e a réstia de lembrança
de outros lábios
e beijos por dar
é quando trinco os meus
em fúria e raiva
para me lembrar
que ainda os consigo sentir.
estou esgotado
e já é tarde para mim.
assim... vou desistir
é hora de partir
adormecer de vez aqui,
onde não há espaço
para abraços e beijos,
e acordar noutro lugar.
preciso reaprender a chorar
desabar completamente
para me voltar a levantar
e tudo recomeçar
e tudo do zero
voltar a erguer
até que possa dizer
que vale a pena viver.

23/06/2008



tu és linda
eu feio de morrer.
que mais há para dizer?...
tornar-te Dulcineia,
desafiar moinhos
até me esvaziar de tanto
sonhar que venças tabus
de menina não emancipada.
tu és linda
eu feio de morrer
que mais há para dizer?...
que aqui, cá dentro
há mais estrada
onde os teus sentidos
já não arriscam percorrer,
afrontados pela aparência
propositadamente pouco cuidada
de quem pensa
que a aparência terá
sempre muito pouco a dizer.

que se passa comigo?
depressão, desilusão
agonia da solidão?
que me apaixono
constantemente
e constantemente
me deixo infeliz
por não ter coragem
de te abordar.
que se passa comigo?
o porquê deste medo
o porque deste segredo
de te guardar fechada
dentro do peito
e nada fazer
para to mostrar
para to dizer.
que se passa comigo?
receio de falhar,
falta de esperança
ou outra razão?

o homem morto desmontou
da sela, da cela do posto
e observou na pele, sentiu
o que é estar do lado de lá
como o homem comum
e como homem comum usufruiu
dos prazeres da terra
lá na adega da rua
lá na casa amarela
que sentiu como sua.
o homem morto desmontou
da pose de intelectual
e almoçou com o seu igual
como há muito
o deveria ter feito
mas só agora viu
tudo o que se perdeu
por desprezar o que é seu
numa superioridade sem jeito.

hoje cumpri o objectivo.
dei-te os vídeos, a oferta
e as instalações de cor.
fugiste a sete pés,
como tinha já antecipado supor.
fugiste a sete pés
como se eu exigisse amor
de quem não o quer dar.
não, não o exigirei.
sei a importância que tem
dá-lo sem ter que pensar
porquê e a quem
numa partilha maior.
não, não o exigirei
porque também já me dei,
sem me querer partilhar.

19/06/2008



não é motivo para te odiar
não, não te odeio
é só este deixar de gostar
que se instala no peito
depois de tanto esperar
promessas no leito
de lábios solitários
que ficaram por usar

não é motivo para te odiar
não, não te odeio
é só este deixar de te amar
que se instala no peito
por tanto esperar
por tanto lutar e quebrar
que me leva a desistir de ti
por só me saberes ignorar


noite em vão
à tua procura
já não tenho tempo
já não tenho alento
nesta inútil espera
que não sossegas
com esse desaparecimento
entre efémeras aparições
promessas incumpridas
para estas ambições
para estas ilusões
pensar que as constelações
me iriam favorecer
e contigo derreter

16/06/2008



vai mal o planeta
vive-se em incerteza
sobe o preço do petróleo
desce o preço da fome.
protestos, bloqueios
e contestação.
mal-estar instalado
a suspirar revolução.
hoje morreu um homem
amanhã mais morrerão.
irá haver clareza,
irá haver razão útil
para dar futuro
a uma nova geração
sem que fique
incólume e fútil
sem que fique
triste e presa?

vai mal o planeta
democracia, globalização
transformada em treta
do monstro papão
e dos aprendizes de letra
chulos da governação
a passear pela mão
a comitiva da cartelização
que deixam com mais fome
o meu irmão de áfrica
da ásia e do islão.
vive-se sem humanidade
vive-se sem socialização
sobe o preço do petróleo
desce o preço da vida
nesta falta de pão.
e tu quanto mais tempo
vais ficar parado
colado ao espelho
de comando na mão?

democracia: uma treta!
globalização: uma treta!
sobe o preço do petróleo,
sobe o preço do pão!

democracia: uma treta!
globalização: uma treta!
sobe o preço do petróleo,
desce o preço da fome!

e tu quanto mais tempo
vais ficar parado
colado ao espelho
de comando na mão?


ontem trouxe vídeos para ti
não apareceste mas eu não desisti.
hoje trouxe-te outra oferta
deixei instalações de cor,
desenhos em cartão pelas paredes
nas ruas do quarteirão,
mas não apareceste e perdi,
perdi vontade de lutar
e de não desistir de ti.
e agora que me deito
perco vontade de acordar
de levantar, lutar e perder,
todos os dias perder
até já não conseguir mais
encontrar-me a mim.
este insistir, este partir
constantemente do zero
e correr sem te alcançar
cansa-me, leva-me à exaustão,
consome-me a esperança,
todo o sentido e a razão.

09/06/2008

From DrawingsAndPa...

hoje vim sentar-me
no jardim do bairro
tocar guitarra e relaxar
porque esta madrugada
vi-te passar a
pernoitares os olhos em mim
e andei contigo
todo o dia a sonhar
e se estivesses aqui
de olhos nos meus
era assim que gostaria
de to dizer, de to cantar
neste eterno ver-te passar
neste eterno não te tocar
neste eterno contigo sonhar
neste eterno ver-te desfilar
sem poder ambicionar
sem poder sentir-te
que mantém a magia
que tens no olhar
que carrega um ar
de bonequinha princesa
passeando em dor
uma extrema beleza
sob caracóis em flor
negros, largos e longos
numa madrugada de junho
de serralves em festa
e vejo-te passar
e viste-me passar
e pernoitaste o olhar
um segundo a mais
do que este sentir
consegue suportar.
este eterno ver-te passar
ver-te desfilar
sem poder ambicionar
sentir-te, tocar-te
só deixar-te ficar
entrelaçada em mim
em beijos dados
e corpos amados
nestes sonhos
há demasiado sonhados
neste eterno
ver-te passar
sem poder sentir-te
sem poder tocar-te
só deixar-me ficar
a poder sonhar-te

05/06/2008



apetece-me gritar
por não ter nascido aqui
por não estar habituado
a essas regras de etiqueta
tantas vezes leis de sarjeta
e não te saber conquistar.
apetece fugir
para longe daqui
num sítio onde possa
desabafar e ganir
chorar e curar
esta estranha dor
de não te ter aqui.


e cada noite
é mais do mesmo
no conforto dos amigos
na reunião de café
para socializar
para marcar com presença
uma cadeira, um lugar
para consolidar este integrar
ganho a pulso
que não parece cicatrizar
por não ter nascido assim
nunca haverá mutação
sempre pronto a quebrar
esta frágil ligação


e todos os dias
me aproximo de ti
é esta traça
esta doce dor
de te ter aqui
em lençois em rubor
até ser amor
até ser amor

e todos os dias
me mostro a ti
é esta vontade
queres-te para mim
inteligente, doce
e coração de rubi
até ser amor
até ser amor

e todos os dias
me dou a ti
e todos os dias
foges assim
de sorriso nos lábios
em sonhos sem fim
até ser amor
até ser amor


estupidez extrema
pensar que és pior
por teres no sangue
a correr a mesma cor
e à superfície a pele
a colorir outro suor

estupidez extrema
pensar que não tens dor
por teres na boca
a mesma saliva
a entoar palavras
com outro sabor

estupidez extrema
pensar que não podes chorar
por teres o mesmo sal
o mesmo brilhar
com olhos afiados
de outro lugar

estupidez extrema
que afunda o planeta
e deixa o irmão
de mesmo sangue
de mesma dor e olhar
de peito a latejar

03/06/2008


não te vejo desde fevereiro
e agora que junho
me rouba de mim,
rouba-me os dias o pensamento
e deixa-me a sonhar
acordado todo o tempo
só a sonhar contigo
só a pensar em ti
e vejo-me a salvar-te do fogo
e a sacrificar esta minha
mísera existência
para salvar a tua
como derradeira forma
de te mostrar
quanto gosto de ti.
e só depois de me veres
salvar-te das chamas
e ver-me perecer
te darias conta que poderias
ter gostado de mim.
e acordo de estar acordado
e sinto-me enlouquecer
por em tantos meses
não me dares uma hipótese
de poder saber de ti.
e sinto-me enlouquecer
sempre que entro no café
e ter que ver a tela
que pintei para ti
a envelhecer a parede
numa infrutífera espera.
e sinto-me enlouquecer
a envelhecer com a tela
num esquecido café
numa inútil espera.
e sinto-me enlouquecer
por finalmente perceber
que no céu quase vazio
eras a única estrela
e agora que o céu negro
que de tão oco murchou
perdi a noção de cor
e já não o sei pintalgar
com outros brilhantes
que me dêem paixão.
e sinto-me enlouquecer,
a envelhecer
por já nem saber
o que é isso de paixão
e a que saberá.
sinto-me enlouquecer,
a envelhecer
por não te esquecer,
seguir em frente e viver.

dou-me conta em noites vazias
que atirei fora pela janela,
pela porta, pelos pulmões,
pelos colhões, pelos corações,
pelas sensações, pelas desilusões
trinta anos de vida.
esqueci e traí amigos,
esqueci e traí amores,
troquei-os por novos,
troquei-as pelo celibato.
e o relato vai-se acumulando
desfiando-se o novelo
num amontoado de tinta
vindo da caneta companheira
que ao longo dos meses
se foi afeiçoando a mim
e só agora quase de bico desfeito
se apaixona e deixa amar
como dois velhos num banco de jardim
à espera do fim.

mil e trezentos quilómetros
e o vazio não se extinguiu.
parece que nem saí daqui
e o doce lar há muito
que já perdeu o açúcar,
o sal e o sabor.
tornou-se em algo
completamente inerte
e calmamente indolor
e no fim de contas
talvez seja essa calma
que lhe dá valor.
talvez seja essa calma
o puro toque de sabor.

corro atrás de ti
em sonhos tardios
e acabo sempre preso
no mesmo lugar
pendurado num precipício
e de mãos a escorregar
não temendo olhar para baixo
nem me deixando voar.
corro atrás de ti
em becos vazios
e não desisto
e insisto
até me encontrar
a andar ás voltas
a correr, a saltar,
a bater em paredes frias
e camas vazias.

fio, fio, fio
desfio o momento
fujo em contra-mão
ás marcas do tempo
fio, fio, fio
desafio a ilusão
a enganar o corpo frágil
com um resto de loção
fio, fio, fio
rio da minha pele
e do absurdo de dias
que me leva a curar
as marcas do teu sorriso
acerca do meu olhar

afundo-me na inércia
para não ter que mudar
para que nada abale
a certeza de acordar
no ritmo do deixa andar
no viver duma vida fútil
a consumir o bem inútil
até me sentir despertar

e todos os dias me ouço:
vou mudar! vou mudar!
e todos os dias me esqueço
e deixo andar, deixo andar

a respirar a rotina
a surdina de trabalhar
para que nada abale
a ilusão de bem estar
que me amarra os sonhos
e me consome o tempo
até me sentir acordar
num oco desalento

e todos os dias me ouço:
vou mudar! vou mudar!
e todos os dias me esqueço
e deixo andar, deixo andar.

02/06/2008

Madrid, Bar Deseo, onde acaba o desejo começa o...

30/05/2008





vivo numa caixa cinzenta
tão igual a outras setenta
onde só o meu velho frigorífico
se manifesta,
e protesta

vivo numa gaiola cinzenta
tão igual a outras setenta
onde só o velho porteiro
diz bom dia
em agonia

ahhhhhhhhh
eu não quero mais
esta solidão urbana
que me mata
que me esgana

vivo numa caixa cinzenta
tão igual a outras setenta
onde só o meu velho frigorífico
se manifesta,
e protesta,
e protesta,
e protesta,
e protesta!

ahhhhhhhhh
eu não quero mais
esta solidão urbana
que me mata
que me esgana

19/03/2008


Dói-me não adormecer
dói-me ver amanhecer
encolhido no sofá
e a cama por desfazer.
dói-me o corpo, doi-me a cabeça
dói-me a falta que faz
um segundo de calma,
um segundo de paz.

dói-me o anelar da mão
de tão só que está
faz-me falta um coração
e a paixão que ele dá

Dói-me não adormecer
dói-me ver amanhecer
encolhido no sofá
e a cama por desfazer.
dói-me a boca mirrada
dói-me a face lilás
à procura da caixa negra
neste peito que se desfaz.

dói-me o anelar da mão
de tão só que está
faz-me falta um coração
e a paixão que ele dá

10/03/2008


chamam-te carcaça inútil
dinheiro fora de circulação
espécie humana anormal
habitante de banco de jardim
a jogar as cartas com os teus
e a roleta russa com o tempo
de olhar mais vago e distante
pressentindo algo mais próximo
algo bem mais perto de ti.
chamam-te carcaça improdutiva
substituída por uma máquina
brilhante, bem oleada e bem escrava
a troco do soldo mínimo.
os entendidos recusam a palavra
para chamarem a atenção
e sem esperança se desculparem
de a cura ser uma ilusão
para se desculparem de não conseguir
transformar a doença em benção.
chamam-te de carcaça inútil
após quarenta anos de trabalho
a alimentar os bancos e o estado
carregado de medicamentos
mas só metade dos que o dinheiro
consegue comprar
és atirado, despachado
para o ferro velho
para o lado de lá
não que a morte
te tenha vindo buscar
mas apenas pela sociedade
a quem deste vida
essa é a primeira a te empurrar.
chamam-te carcaça inútil
chamam-te de velho

03/03/2008


tudo está bem agora.
os cantos do quarto
alinham-se em silêncio
rodando na penumbra
e a cama gigante
em déjà vus sucessivos
só serviu de pátio
para o desalento
afastando os corpos
madrugada adentro
até restar só o meu
em déjà vus sucessivos
a tentar trazer o teu
corpo de curvas de fogo
e a tentar reanimar o teu
coração de pedra de volta
mas tudo está bem agora
no silêncio deste quarto

28/02/2008



o que eu quero é dar-te um sorriso 
nos dias em que estás triste
e te arrastas ao relento
nos dias em que despresas a chuva
e a teimosia do vento
nos dias em que aí dentro
desabas debaixo dum céu cinzento.
mas o que eu quero mesmo
É que me dês esse sorriso
nos dias em que também estou assim

04/12/2007


hoje desisto de mim
e da luta de te conquistar
quando tudo cai por terra
ao ver-te outro beijar
em gestos doces, delicados
de quem ama o estar a amar
hoje estou feliz por ti
por ver-te assim
hoje estou infeliz por mim
por ver-me assim
hoje meti a canção número cinco
do meu álbum preferido
no leitor de cds do carro
e apontei para debaixo
de cada camião que passava
mas imaginei que me pudesse magoar
mais do que a agonia que me comia
e mulher nenhuma merece
que me ajoelhe assim

ontem disseste-me que sentes
as últimas folhas de outono beijar o chão
hoje ouvi dizer que sucumbiste à paixão
amanhã pintarei um graffiti para ti
e ficará desgastado de solidão
à espera que lhe sopres cor
com lábios doces de açúcar.
hoje faltei a uma reunião às dez da manhã
porque me apeteceu prolongar o sonho
porque tu estavas lá, e não quis acordar.
hoje apeteceu-me extinguir
o vinho do porto deste bar
não para te esquecer
só para te sentir a triplicar.
hoje apeteceu-me escrever-te um poema
mas não sei rimar, nem soletrar cada palavra
que te derreti em sonhos tardios
sobre pele morena por beijar.
hoje apeteceu-me pintar-te
deitar-te na tela e deixar a tinta fluir
entre dedos entrelaçados e corpos ruborizados
mas não estavas aqui para soprar

12/11/2007



ohhhhh,
descalça-te, solta os dedos dos pés entre a terra,
solta o cabelo e os olhos no infinito do mar
segurando um barco à vela e
"Jeff Buckley - Lover, You should come over"
cantando aí bem perto ao fundo da sala.
pega num Porto, num Verde ou num néctar
que te adoce os lábios cansados de mais um dia
de miúdos-homens, de globalização e de
surrealismos que pairam na televisão.
ohhhhh
amor, amor, amor, amor, amor, amor, amor, amor...
estás obrigada a ler este mail repetidamente
segundo estas condições
sob risco deste texto não fazer sentido
ou de provocares um acidente inter-estelar
e não haver lua sob a qual possas amar
ohhhhh
amor, amor, amor, amor, amor, amor, amor, amor...
somos duas constelações milernarmente
solitárias, perdidas... em rota de colisão
hoje, amanhã ou no mês que vem
e não há lençois de seda
em que eu não te queira beijar em tal combustão
Ohhhhh
amor, amor, amor, amor, amor, amor, amor, amor...
não te deixes enganar
pelos exageros que dizem de mim
sou apenas mais um humano
cravejado de defeitos
teimando caminhos de solidão
Ohhhhh
amor, amor, amor, amor, amor, amor, amor, amor...
se eu fosse Pessoa
todos os meus heterónimos
te confessariam opiaciamente
que adorei a tua fotografia
e que desde o meio-dia de ontem
te trago aqui
neste lado do peito
sem saber o que te escrever
Ohhhhh
amor, amor, amor, amor, amor, amor, amor, amor...
não sou Pessoa,
sou ninguém, sou nada
sem te conhecer
todas as noites
a olhar as estrelas
à procura de ti
Ohhhhh, por isso
amor, amor, amor, amor, amor, amor, amor, amor...
não me assobies com um doce
e me largues como um cão vadio
a 100 quilómetros de distância
porque eu todos os dias
farei o caminho de volta
nem que seja
para que todos os dias
possa ficar a dois metros de ti
Ohhhhh
amor, amor, amor, amor, amor, amor, amor, amor...
devias estar agora aqui
nesta rota de colisão

28/10/2007


parece que foi ontem
que adormeceste em pétalas
sopradas por mim.
de planos falhados
e amores desfeitos
foi o único momento
que ficou,
em que realmente te amei,
em tudo o resto falhei
e tudo o resto esqueci.

a confusão de sentidos instalou-se
já não paira a razão
deslocou-se o tempo e
falhei a hora do autocarro
fiquei sentado de caneta na mão
e caderno a amanhecer
em solidões de orvalho.
doi-me o coração! Caralho!
não dá para transparecer?
ou será que é preciso
dar-te duas estaladas
de luvas brancas
e unhas em lâmina?
sim, tu que estás a ler!
sim, é para ti.

perdi-me algures
entre os vinte e os trinta
e ainda não me achei
a procurar por mim no passado
devo abrir os olhos
e seguir em frente
destemido à procura
de onde quero estar
porque se perde demasiado tempo
a reavivar cinzas
que deram tudo de si
e merecem descansar.
perdi-me algures
entre as duas e as seis da manhã
de todas as noites de vida
a procurar por ti
mas desisti
cheguei à conclusão
que não és noctivaga.

preciso mudar a forma como
inspiro este ar dos dias
de violetas frias e de
orvalhadas cinzentas e dispersas
que o calendário devora.
preciso mudar este sorriso
que se esconde atrás
das incómodas frustações
das aberrantes desilusões
que se herdam dos patrões
no eterno contar dos tostões.
preciso mudar o ser
que inventei para mim
culpando o lugar que o
abriga do vento, do tempo
em desculpas esguias e sombrias
preciso aprender a reconhecer
quem sou atrás deste
que aqui está transformado
e aceitar pacificamente
a evolução, a revolução
do que se seguirá.

hoje apeteceu-me escrever
como se tivesse encontro
consulta marcada
no consultório da morte
amanhã de manhã
e já não tivesse tempo
para dormir uma
última noite de sono.
hoje apeteceu-me pintar
como se amanhã
fosse acordar num mundo
a preto e branco
em que ninguém se lembra
de que cor é o seu sangue.
hoje apeteceu-me tocar guitarra
como se amanhã fosse ficar
surdo como uma pedra
que não se afasta impávida
só para ouvir o dedilhar
dos pneus na estrada molhada.
hoje apeteceu-me saborear
com a pele uma lágrima lenta
como se amanhã o ferver global
fosse secar o profundo oceano
e o transformasse em marte.

21/10/2007


nada feito.tudo desfeito.
tudo me leva a partir
tudo me leva a desistir
de mãos limpas a tinir.
nada feito. tudo desfeito
e nada para quebrar,
nem para desabafar
nem um caco
nem um vidro
para me deixar fugir
nem uma bala, nem um fio
para me agarrar
e poder deixar-me cair
trinta e três
e assim queria ficar
e demasiada covardia
a deixar-me arrastar
pelo nada feito
pelo tudo desfeito.

tenho um buraco aberto
a meio do peito
chama-lhe coração desfeito
chama-lhe de insatisfeito
chama-lhe defeito
chama-lhe o que quiseres
só não tenhas preconceito
nem nojo, nem temor
de não o ter como tu
quente, ardente
e por vezes indiferente
tenho um buraco aberto
a meio do peito
foste tu! foste tu!
não deixaste sarar
não o deixaste fechar
aos sopros mundanos
aos medos urbanos.
tenho um buraco aberto
a meio do peito.
foste tu! foste tu!

23/07/2007


não faço outra coisa
a não ser esperar
a escrever e a acovardar
a vontade de ver-te chegar.
não faço outra coisa
a não ser ver-me afogar
em ilusões de ver-te procurar
por mim em qualquer rua
em qualquer esquina
e não faço outra coisa
a não ser ver-me desesperar
em imagens imaginadas
de ti a gostar de quem aqui
não faz outra coisa
a não ser esperar por ti
e esperar não me faz
perder as ilusões,
ciclo viciado sem sentido
que me faz não fazer
outra coisa que não seja
andar perdido a esperar

desta vez o sonho
foi-me logo barrado á partida
como se tivesse o peso
da desvantagem
a agarrar-me os pés
como se tivesse o facto
de ser um estranho
entre amigos de anos
de piadas privadas
a enrolar-me a língua
e a afastar-me de ti
e percebo-o no teu olhar
quando deixas pernoitar os olhos
um segundo a mais
do limite da descrição
e quando te sorrio
um segundo a mais
do que é aceitável
para um estranho
e tudo isto me parece
irrisoriamente injusto
porque todos temos
um coração para cuidar

vejo a praça
de outra perspectiva
como quem a vê
de fugida
como quem a vê
de partida
poderiam existir uns
ramos de árvore
a ondular um adeus
ou quem sabe uns
braços de pessoas
a apupar uma saída
mas a praça está fria
como a cidade
que a engole e esfola
em cinzentos betão
e sonhos largados da mão
estilhaçados no chão
de habitantes com muito
dentro do peito
e coração desfeito

19/07/2007


sinto-me só
acompanhado da televisão
e do sofã
e não sei o teu nome
para te chamar
e não sei o teu número
para te tocar
nem a cor dos teus olhos
para pintar
sinto-me só
acompanhado da televisão
do sofã, da gata
e dos fantasmas
sentados no cadeirão
e já não sei o nome deles
para os cumprimentar
nem o número
para os chamar
nem a cor dos teus olhos
para pintar
nem o sabor dos teus lábios
para tocar
nem o tom da tua pele
para beijar

que linda és
embriagada ao ponto
de seres comentada
de seres invejada
desejada, idolatrada.
que linda és
desenvolta, solta
e impossível para mim
entre mil abutres
sedentos de entranhas
e sucos vaginais, ideiais.
que linda és
entre os livros
perseguindo objectivos
e por isso espero
como um isco
desaparecendo, despedaçando-me
sufocando em água
e desesperando

ontem pintei um graffiti para ti
hoje a parede está vazia, fria
sem compaixão pela tua beleza
e sem vestígios de lhe teres
passado a vista por cima.
ontem pintei um graffiti para ti
e hoje nem saberás que ele existe
e amanhã quem te ama desiste
de pintar graffitis.
hoje escrevi um cadernos de textos
para desgastar a imagem
que tenho de ti
para te esquecer em cada palavra
para acordar em cada pausa
em cada ponto final
e me lembrar que não gostas de mim.
para me lembrar
que só o despertador não desiste
e insiste
a cada nove minutos
em me lembrar
de acordar para ti.

mais um porto
mais um morto
mais um aborto
de pensamento, de sentimento
mais um pedaço de auto-comiseração
por causa de mais um não
por causa de mais um vazio
que me encheu o peito.
mais um porto
mais um alento
sobre este céu
de chumbo cinzento.
mais uma noite
nesta caixa vazia
igual a mais oitenta
onde só os frigoríficos
murmuram um suspiro
que me alenta
murmuram um suspiro de revolta
de não solidão,
de compaixão.
mais um porto
mais um morto
mais um aborto
de pensamento, de sentimento

desespero enquanto espero
e o dia beijou a lua
e o luar sugou um novo dia
e o verão comeu uma nova estação
e o frio comeu-me de novo o coração
lua após lua
letra após letra
canção após canção
e mais uma vez
vejo-te desaparecer
entre dons sebastiões
nevoeiros, demónios e solidões
e desespero enquanto espero

uhhh, a vida mata
por cada passo dado
por cada lado virado
da página do dia
uhhh, a vida corre
por cada caminho
traçado ou falhado
por cada estação
apeadeiro alcançado
uhhh, a vida cansa
em cada noite mal dormida
em cada dia mal vivido
em cada momento bom
conseguido
uhhh, a vida moi
em cada ferida aberta
em cada tira de pele
descoberta
em cada cama desfeita
em cada cama por fazer